quinta-feira, agosto 24, 2006

Frio lá fora

Faz frio lá fora, cá dentro apenas eu, tu e a lareira acesa que nos aquece os corpos. Vem para perto de mim, não resistas a tentação, não tenhas medo do meu olhar, do sabor dos meus lábios, do meu toque na tua pele. Sinto que algo te impede de andar, algo paralisa o teu corpo, mantendo-o imóvel, inanimado, frágil e frio. Aproxima-te de mim, do calor que emana na minha direecção, do estalar da madeira ao ser consumida por este fogo. Eu continuarei aqui, à espera que cedas à doce tentação, que te deixes levar pelo errado, pelo querer que no fundo é tão certo. Apenas desejo a tua companhia, poder partilhar contigo este calor que me sufoca, será que consegues sentir? Sei que vives com medo e insegurança, sei que guardas muitos segredos aí dentro, sinto mas não questiono, tudo o que quero é a tua presença, sem uma única palavra, apenas o calor nesta noite fria, apenas tu e eu. Falo-te através do olhar, da gota de suor que percorre o meu rosto, falo mas tu não entendes, não agora, não a pessoa que és hoje. Continuas impávida e serena, divides o olhar entre mim e as labaredas que iluminam a sala, que aquecem o ar que respiramos, que nos confortam a alma. Já não sei qual de nós está mais perto desse fogo, como por magia o chão movimenta-se, deixamos de poder caminhar, de saber onde colocar o próximo pé, de controlar as labaredas. A distância mantém-se, as chamas aumentam alimentadas pelos nossos pensamentos e por tudo o que nos rodeia. Arrisco ser engolido, sem medo de ser transformado em cinzas, continuo aqui, sem motivo. Procurando os teus limites, aguardo o tempo necessário, por uma decisão, por um movimento teu. Senta-te a meu lado ou volta para o frio de onde vieste!

17/02/05

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